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A simplicidade é inerente as pessoas que vieram ao mundo para fazer a diferença

Por: Micheline Forte.
Mestre e doutoranda pela FDUP/PT, Professora das Pós-graduações em Processo Civil da UNIFOR, UNI7, FAMETRO e UNICHRISTUS. Advogada da União.


Ao ser convidada para escrever um pequeno texto sobre a defesa da tese de doutoramento em Direito de uma amiga especial, impossível não relembrar parte de sua trajetória de vida, que tive o privilégio de acompanhar desde quando a conheci lá pelos anos 2000.

Uma jovem mulher, que acumula as funções de esposa, mãe, filha, nora, irmã, amiga, advogada pública, acadêmica, professora titular de processo civil da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará - UFC e atleta (ela é uma maratonista disciplinada), e que sempre está disposta a aprender algo novo, principalmente, na academia, e no que se refere ao estudo do processo civil, sua grande paixão.

Ainda lembro de quando a menina recém-formada, vinte e poucos anos, já advogada pública, estudante do mestrado da UFC, começou a dar aulas de direito processual civil nas Faculdades de Direito Alencarinas. Não demorou muito para que aquela jovem tímida, de uma simplicidade ímpar, no falar e no tratar com as pessoas, fosse apontada pelos seus alunos, como uma excelente e dedicada professora e reconhecida pelos mesmos e por seus pares, como uma grande estudiosa do processo civil.

Nunca perguntei os motivos que a impulsionaram a se tornar uma processualista, sempre acreditei que seu trabalho na Advocacia-Geral da União teria influenciado sobremaneira nessa decisão, já que processo civil é o metiê de quem atua no contencioso de massa. Mas, de que serviria uma decisão, se não houvesse, o mais importante, a vocação? Com a decisão talvez surgisse uma professora de processo civil com boa técnica, mas sem o tempero da paixão, que no meu sentir é segredo dos grandes mestres. Não tenho dúvidas, minha amiga é vocacionada para o magistério, especialmente, para lecionar processo civil.

Olhando para o passado, relembro todas as dificuldades que uma jovem mulher e mãe de primeira viagem, na época, passou. Não, não foi fácil percorrer o caminho até a conclusão do doutorado. Noites sem dormir, preocupações de todas as ordens, seja porque tinha que ser uma mãe presente na vida dos seus filhos, afinal esse é o papel mais importante para ela, tenho certeza, seja porque tinha que manter seu trabalho como servidora pública em perfeita ordem e sem falhas e ainda estudar para dar seu melhor em sala de aula, como aluna (no mestrado e, depois, no doutorado) e como professora de graduação, pois sempre teve a consciência de como um professor influencia positivamente ou negativamente a vida de um aluno.

Não tenho como mensurar a força e o poder do desejo de estudar, de pesquisar, de realizar, de contribuir com a doutrina atual, de chegar lá, se é que existe um final no que se refere à aprendizado. Já perguntei várias vezes qual é o segredo dela para conseguir realizar tudo a que se propõe. Como resposta, ouvi, surpresa, que ela acha que está sempre devendo alguma coisa, seja à família, ao trabalho, ao estudo, aos alunos, e é por isso se sente impulsionada a correr atrás e tentar dar sempre seu melhor.

Hoje comemoramos com grande alegria a defesa da tese do doutoramento da professora Janaína Noleto Soares Castelo Branco, na Universidade Federal do Ceará - UFC, sua casa de formação intelectual. A sua tese: “A adoção de práticas cooperativas pela Advocacia Pública: fundamentos e pressupostos”, já é um marco para o processo civil e para a Advocacia Pública, na medida certeira de que o poder público precisa acompanhar os avanços trazidos pelo Código de Processo Civil de 2015 e aplicar o que há de melhor das práticas cooperativas, tendo em vista ser a Fazenda Pública latu sensu a maior “demandista” do Poder Judiciário.

Importante lembrar que como professora, ela é ativa nos debates, seja nos grupos de processo civil constantes nas redes sociais, alimenta o blog “dicas de processo civil” no instagram, bem como, participa de diversos grupos de pesquisa na área processual e nos diversos Fóruns Permanente de Processualistas Civis - FPPC, capitaneados pelo Professor Fredie Didier Júnior e Fóruns Permanentes do Poder Público - FNPP, organizado pelo Professor Marco Antônio Rodrigues e Rita Nolasco. Ainda é membro da Associação Norte Nordeste de Professores de Processo - ANNEP, membro da Associação Brasileira de Direito Processual - ABDPro, do Instituto Brasileiro de Direito Processual - IBDP e da Academia Brasileira de Cultura Jurídica – ABCJuris.

Convidada a fazer parte do grupo, as Processualistas, canal oficial de comunicação do Projeto Mulheres do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) já teve a alegria de ter alguns de seus textos e vídeos publicados nesse local de referência de grandes mulheres processualistas.

E é impossível não salientar, que aquela jovem professora, a cada dia, daquele modo que lhe é peculiar, na sua simplicidade, torna-se, uma grande referência nacional na área do processo civil nacional, não porque deseja ser uma pessoa importante, acho até ela uma profissional “importante” mesmo, mas o objetivo nunca foi ser uma pessoa importante, seu objetivo, tenho certeza, foi sempre o de fazer a diferença. A simplicidade, sem nenhuma dúvida, é inerente as pessoas que vieram ao mundo para fazer a diferença, e Janaína Soares Noleto Castelo Branco faz a diferença dentro da sua simplicidade.
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