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Sobre o FPPC e subprodutos

Por: Carolina Uzeda
Advogada (Gordilho e Napolitano Advogados), mestranda em Direito Processual Civil pela PUC/SP e especialista em Direito Processual Civil pela PUC/RJ. Professora do curso de Especialização em Direito Processual Civil da PUC/RJ. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Processual e do Instituto Carioca de Processo Civil.

 
Considera-se subproduto aquilo que resulta secundariamente de outra coisa, consequência ou resultado. Fredie Didier Jr., idealizador do Fórum Permanente de Processualistas Civis, nos dois últimos fóruns, orgulhosamente exibiu os subprodutos da sua “cria”. E são inúmeros. Além dos enunciados, nasceram, no FPPC, livros, congressos, fóruns de estudos específicos e muitas outras iniciativas que estão contribuindo imensamente para o estudo do direito processual civil.

O FPPC também permitiu que jovens processualistas, das mais variadas universidades, se conhecessem. Saíssem do mundo restrito das suas instituições e entrassem em contato (e diálogo) com pessoas de ideologias variadas. O resultado não poderia ser outro. Temos, hoje, grandes talentos que, a despeito da pouca idade, já são considerados pensadores relevantes nas suas áreas de pesquisa.

Dessa congregação de amigos, jovens e pesquisadores de diversas instituições do país, surgiu também a Processualistas. Sim, a Processualistas é um subproduto do FPPC. Fredie nunca disse, mas nós estamos dizendo.

Acontece que o FPPC é, também, um subproduto da Processualistas. Pelo menos o IX FPPC.

Foram escolhidas apenas relatoras mulheres (Beatriz Galindo, Carolina Uzeda, Gabriela Exposito, Janaína Noleto, Paula Sarno Braga, Marcela Kohlbach, Marília Siqueira, Sarah Merçon, Thiana Cabral e Trícia Navarro). A organização ficou por conta do trio Lorena Guedes, Rosalina Freitas e Renata Cortez.

Um FPPC organizado e relatado exclusivamente por mulheres teve algumas características muito peculiares.

O nível dos debates e dos enunciados foi sensivelmente melhor e, em que pese isso possa ser fruto apenas do amadurecimento dos participantes e das ideias, foi uma coincidência muito feliz.

As mulheres falaram mais e, porque não interrompidas no meio do raciocínio, melhor. Nas plenárias, muitas que, até então, ficavam caladas, falaram, lançaram suas opiniões e não se intimidaram pela pressão masculina, nos momentos acalorados da discussão. Quando a pessoa encontra apoio e sabe que é tratada como igual, ela tem a liberdade de ser quem é, falar o que pensa e impor-se. Ela se mostra.

O resultado disso tudo foi um evento incrível, de alto nível acadêmico e com o crescimento e reconhecimento de muitas novas mulheres. Foi um evento igualitário, onde todos, homens e mulheres, participaram, ensinaram e aprenderam. Esse FPPC tem a marca do feminismo, tem a marca da percepção de um problema de falta de participação feminina em eventos acadêmicos, tem a marca daqueles que resolveram parar de omitir-se. Paramos de disfarçar as evidências e, aceitando a verdade, começamos a corrigir nossos erros para a construção de um mundo melhor.
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